download pdfJoão Bosco Silva
Consultor sênior e sócio, Cambridge Family Enterprise Group Brasil

O Brasil é um país cheio de contrastes e nesta virada de ano nos deparamos com algumas dessas disparidades na situação das mulheres.

Por um lado, assistimos na mídia ao aumento do número de feminicídios, que, além de nos indignar e entristecer, faz refletir e concluir que ainda somos uma sociedade machista. Muitos homens não conseguem absorver a independência econômica e a liberdade de escolha das mulheres, apelando para a violência.

Reformular a legislação e ampliar o rigor em sua aplicação talvez seja uma saída. Mas, a médio prazo, a solução passa pela educação de nossos jovens, ensinando-os a respeitar a liberdade individual dos demais.

Foi-se o tempo em que as mulheres se submetiam ao jugo de seus maridos devido à dependência econômica. Hoje, o casal é, na maioria das vezes, constituído por duas pessoas que possuem suas rendas individuais e isso as tornou mais livres e independentes em suas escolhas.

Por outro lado, estamos vivenciando cada vez mais a ascensão das mulheres em diversas atividades, assumindo papel de destaque na sociedade. Em alguns setores, como na educação, elas já têm alta predominância. O mesmo fenômeno vem ocorrendo no setor financeiro. Mais recentemente, passaram a ocupar também posições de destaque na indústria e no agronegócio.

Nas empresas, é notório o crescimento feminino em posições de liderança. Ainda que exista uma discussão sobre a forma de incentivar a participação delas na direção – uma corrente defende que deveria haver cotas, enquanto outra diz que elas devem assumir as posições por meritocracia, o que acredito que agrega mais credibilidade – o fato é que cada vez mais as mulheres estão tendo maior influência no mundo corporativo.

Ter mulheres em posições de liderança contribui para atrair talentos femininos, que hoje representam mais de 50% da força de trabalho no Brasil. Pesquisas indicam que jovens competentes e com potencial preferem trabalhar em empresas onde não haja distinção de gênero e que proporcionam crescimento profissional, até o topo da organização, baseado em meritocracia.

Nos Conselhos de Administração e outros fóruns de governança, a crescente participação feminina vem trazendo bons resultados, com a melhoria da dinâmica das discussões e uma nova abordagem para assuntos diversos.

Um estudo recente feito por uma consultoria de recrutamento mostrou que quase 90% das empresas de capital aberto no mundo têm como membro do Conselho de Administração pelo menos uma mulher. No Brasil este percentual cai para 77%, mas representa um avanço em relação há três anos, quando este índice era de 61%.

Na Cambridge Family Enterprise Group, onde trabalhamos com empresas familiares de diferentes setores e tamanhos, temos observado cada vez mais a influência das mulheres nas decisões empresariais.

Nos Conselhos em que participo, onde existe diversidade de gênero, elas trazem uma visão diferente para a análise das questões, novas leituras de cenário e uma visão de mais empatia e maior sensibilidade no que se refere a pessoas e responsabilidade social.

A presença das mulheres, direcionando decisões de criação de valor e redução de riscos, é um diferencial neste momento em que a sociedade e os investidores exigem compromisso das empresas com a comunidade e com o meio ambiente. Além disso, locais de trabalho com maior diversidade abrem caminho para mais criatividade.

Temos muito a aprender com elas e, certamente, com mais espaço e poder de decisão, vão contribuir para tornar o mundo melhor, trazendo questões importantes para a mesa e um olhar mais humano para a gestão.