download pdfBruna Tokunaga e Halina Matos

É sabido que tomar decisões é uma das atividades mais importantes nas diferentes estruturas de governança das organizações contemporâneas. Quando falamos de um empreendimento familiar essa atividade ganha ainda mais relevância, já que um dos grandes desafios é garantir a perpetuidade dos negócios ao longo das gerações. Isto significa que as decisões precisam levar em consideração não somente o futuro (do setor, da tecnologia, do cenário macroeconômico, dentre tantas outras variáveis), mas também os planos e desejos dos membros familiares – considerando toda sua pluralidade e diversidade.

O tema Diversidade tem se mostrado em evidência há algumas décadas, tendo sido acelerado especialmente nos últimos anos. Diversos movimentos da sociedade civil e organizações privadas têm impulsionado essa agenda, provocando produtivas discussões em conselhos de empresas em todo o mundo.

Antes de mais nada, é importante resgatar o conceito de Diversidade. Embora as pautas de equidade de gênero e racial tenham crescido na mídia nos últimos tempos, estamos falando também de diversidade geracional, orientação afetivo-sexual, pessoas com deficiência, dentre outros. De maneira ainda mais profunda, também estamos falando de diversidade de pensamentos, visões de mundo, crenças e religiões.

O tema pode ser explorado de muitas perspectivas, e todas elas levariam a um mesmo ponto de convergência: a importância dessa pluralidade para contextos de inovação, tomadas de decisão e geração de valor. O debate gerado por essa fricção intelectual de ideias (e pessoas) diferentes pode ser crucial em um momento de platô, crise ou até mesmo virada de um empreendimento familiar. Quando bem conduzidos, os debates provocam importantes questionamentos que tiram os membros familiares e conselhos do lugar em que estão acostumados. E esse movimento pode ser extremamente positivo para garantir sua sustentabilidade.

Vamos agora explorar um tema que, desde a pandemia, tem ganhado ainda mais notoriedade: a contribuição das mulheres no papel de líderes. Recentemente, a Harvard Business Review publicou um estudo (https://hbr.org/2020/12/research-women-are-better-leaders-during-a-crisis) que apontou que mulheres, no início da pandemia, destacaram-se por passar mais confiança em planos e estratégias. E, no geral, também se sobressaíram em competências essenciais do que hoje se espera do papel da liderança.

Diferentemente do que era visto no passado (controle de todas as decisões e o exercício máximo de autoridade sustentada simplesmente pela hierarquia, por exemplo), o papel de líder hoje está menos relacionado ao cargo e mais à atitude: dar e receber feedback, incluir as pessoas no processo de decisão e resolução de problemas, oferecer apoio genuíno e concreto; construindo assim, um ambiente seguro – essencial para a construção de relações de confiança e união numa família empresária.

Vale reforçar que a busca por resultados de negócio não está em segundo plano na liderança contemporânea; mas ao invés de estimular a alta performance por meio de punição, recompensa e medo, outros ingredientes estão presentes: a inspiração, proximidade e suporte ao aprendizado contínuo. E isso é especialmente importante no contexto de famílias empresárias, considerando os valores e desejos das novas gerações.

Existem características que são reforçadas em uma equipe quando uma liderança feminina está presente. O objetivo aqui não é falar de estereótipos, mas sim, apresentar comportamentos que costumam estar associadas a mulheres (ainda que não exclusivamente, lembrando que cada indivíduo terá sua particularidade) e que também são úteis em tempos de crise: maior flexibilização, relacionamento interpessoal e cooperação são alguns exemplos.

Em uma situação de crise, a incerteza exige uma liderança mais próxima que o usual, na qual a comunicação deve ser mais frequente e próxima. Momentos de incerteza também costumam gerar uma série de reações como, por exemplo, o aumento de episódios críticos relacionados a estresse e ansiedade. Nesse caso, criar um ambiente onde as pessoas se sintam seguras para expor seus desafios pessoais, medos e preocupações, sem medo de serem julgadas ou penalizadas é essencial. Se essa liderança abrir espaço para o diálogo e troca, estabelecendo bons relacionamentos interpessoais, o manejo da crise será facilitado.

Tempos de crise carregam consigo mudanças repentinas – a flexibilização, portanto, é muito útil para pensar em soluções a problemas inesperados.

Por fim, a cooperação também se destaca nesse cenário de instabilidade, onde o estresse pode gerar maior competição interna. Caso essa liderança seja habilidosa em mobilizar a energia para um trabalho coletivo, em que exista apoio mútuo, a crise será uma fonte de aprendizados e, muito em breve, uma história para ser guardada na memória.

Como criar, então, um ambiente mais diverso e inclusivo, onde mulheres (e qualquer membro da família) possam exercer sua plena potência como líderes, sejam nos negócios ou na governança corporativa e familiar?

  • Abra espaço genuíno para que elas possam mostrar seu ponto de vista. Faça perguntas direcionadas e escute, antes de dar a sua opinião;
  • Reforce constantemente os valores e propósito que unem a família;
  • Encoraje o processo de aprendizado e seja a primeira pessoa a mostrar quais são seus desafios atuais e como você quer se aprimorar. O espaço para a vulnerabilidade e diálogo são ingredientes fundamentais que todos se engajem numa jornada comum rumo à diversidade;
  • Ofereça desafios reais às mulheres e reconheça suas conquistas;
  • Promova fóruns específicos onde a família possa acompanhar a evolução nesta pauta, aprendendo em conjunto. Não existe um único caminho possível; por esse motivo, colaborar e trocar feedbacks será essencial.

A jornada rumo à diversidade não costuma ser simples e tampouco rápida. Mas seus esforços podem ser importantes promotores de integração, união e diálogo na família empresária.